BUMMMMMMMMMMMMMMM

CRCRCRC CRCRC C RCRC C

CATRUM

BUMMMMMMMMM
BUMMMMMMMM

Com uma semana de atraso, à boa maneira portuguesa, a bomba lá rebentou.
Infelizmente, não havia câmaras por perto, uma atitude nada portuguesa, para registarem o momento, pelo que se salvou apenas um pequeno manuscrito, rabiscado por um dos autores no verso de uma folha de papel de rascunho já preenchida com um manancial de outras anotações. Novamente à boa maneira protuguesa.

Assim, o que aqui se reproduz, foi oque se salvou de histórico manuscrito...

HISTÓRIA DE UMA BOMBA ANUNCIADA

Eram quatro.
Lindos, bem feitos, bem desenhados, com as curvas todas no sítio, todos os pontos nos iis. Um regalo para a vista.
E eram meus, só meus.
Tratei deles como um amante dedicado. Se não tinha sido fácil conquistá-los, mais difícil foi alimentar-lhes os caprichos, tratar-lhes das birras, suportar os seus avanços e recuos, ceder às suas exigências vergado ao peso e à vaidade de ter, só para mim, tão belos amantes.
Por vezes caíam-me em cima. Não que eu não gostasse de sentir o seu peso mas, quatro ao mesmo tempo, pode ser um pouco demais, mesmo para um tipo experiente como eu. Tive de suar muito para os manter felizes, pois que não eram de "pouco alimento", com se diz na gíria popular.
Mas sempre dei conta do recado. Nunca deixei ficar nenhum mal. Nunca nenhum passou aquela fome que às vezes aparece em relações prolongadas, nunca nenhum me disse que não tinha gostado, nunca nenhum se sentiu insatisfeito.
Não sendo fácil, não sendo comum, vivíamos bem os cinco. À nossa maneira éramos felizes.

Mas....
(Há sempre um mas, nas histórias de amor e esta não será diferente....)

Primeiro um, depois outro, logo a seguir o terceiro e pouco tempo depois o quarto, acabaram a relação que tinham comigo. Abandonaram-me.
Iniciaram outras relações, cada um seguiu o seu caminho, suponho que serão felizes.
Não que eu tenha ficado triste por os ver partir, pois sei que todas estas histórias de amor acabam assim, com um breve adeus-até-qualquer-dia-espero-que-sejas-feliz e sempre soube que esta não seria diferente.

Mas...
(a originalidade desta história é que tem dois mas..)

Mas, como todos os belos deste mundo, estes também tinham um senão. E, neste caso, era um senão dos grandes. Bem, o resto também era grande, mas o que interessa para a história é mesmo o senão deles.
E esse senão era tão simplesmente o facto de não termos assinados os contratos de ligação matrimonial que nos uniam. A mim, com cada um deles em separado, embora vivêssemos em comunhão os cinco.
Vão pensar que eu sou um porco materialista, mas eu sou assim. Nunca inicio uma relação sem primeiro assinar um contrato.
Coisas de velho, mas pronto, eu sou assim. Querem alguma coisa deste corpinho de 18, assinam primeiro um compromisso válido e reconhecido em notário.
Só que, neste caso, por razões várias, isso foi sendo adiado. Não interessam as razões. Foi assim e pronto, não vale a pena chorar no molhado.
Vê-los partir, foi assim uma experiência dura e traumatizante, pois, além de não ter ninguém a quem encostar a cabeça, sentia-me um pouco vazio. O meu lado porco-materialista não parava de me dizer que o vazio que eu mais sentia era o dos bolsos. E esse meu lado é verdadeiramente irritante.
Iniciei então uma busca desesperada. Precisava de encontrar um novo amor. Precisava de encontrar alguém que me afagasse os cabelos antes de dormir, que me olhasse nos olhos e me dissesse que tudo ia ficar bem.
Precisava de encontrar quem fosse Solução. Trocar quatro amores velhos, por um novo amor, que me fosse fiel para sempre e me permitisse recuperar dos danos causados pela ausência daqueles quatro amores. Mas onde??

Sim. Onde??
Chegamos assim ao ponto de viragem da história. Numa telenovela da TVI, isto acontece geralmente no episódio 9999. Aqui é um pouco mais cedo.
(música de fundo, António dos Autocarros de preferência, uma paisagem marítima ao pôr do Sol).
O herói, abandonado pelos seus quatro amantes, parte em busca de um novo amor.

Flash-back
(muito usado nestas histórias de amor, serve para ocupar uns 1000 episódios, com a vantagem de não se ter de pagar aos actores)

Em Junho de 2007, quando o último se foi, fiquei só e abandonado com 4 (quatro) contratos velhos que, como a maioria dos velhos, são do género de não coiso nem saírem de cima.
Uma assinaturazinha que seja. Até já dou de barato com uma simples rubrica.
OH Angústia! Oh desespero! Oh sorte malvada!
Mil tormentos passou o meu pobre coração despedaçado!
Avanços e recuos, soluções à vista que rapidamente se esfumavam.
Espera e mais espera.... Procura e mais procura e…NADA!!!!
"Tanto de mim, investido em vós, para agora acabar assim..."

Fim de flash-back, retomemos a história

Estamos já em Junho de 2008, um ano depois, quase em desespero de causa, recorri a S. Sócrates com uma promessa secretamente assumida: "resolves a coisa e eu voto no PS nas próximas eleições"
Promessa verdadeiramente monstruosa para alguém que o mais à esquerda que votou foi no Cavaco (é certo que à moda do Cunhal que, quando votou no Marocas, o fez de olhos bem fechados), para alguém que sempre achou o centrismo do Freitas uma coisa absurda, para alguém que se entusiasmou com a viragem à direita quando o Monteiro assumiu o controlo do barco e se desiludiu com o regresso ao centrismo do Portas. Mas pronto, promessa é promessa. E os heróis estão sempre dispostos às coisas mais desesperantes para terem um final feliz.
Não é que tivesse passado a dormir mais sossegado, mas sempre passei a olhar com outros olhos para os quatro monstros que jaziam inertes no canto da minha secretária.
E assim foi passando o tempo. Sem novidades. Mais ou menos 500 episódios numa telenovela da TVI

EPÍLOGO
(Finalmente!! estava a ver que nunca mais!!!)

Subitamente, há 15 dias atrás, ele apareceu. Como um raio de sol num dia de tempestade, iluminou tudo à sua volta. Belo, deslumbrante, desceu a escadaria a passo lento, impondo a sua presença a todos os que, extasiados, observavam a sua figura.
Fez-se silêncio. Ele sorriu, percorreu a sala com o olhar e fixou-se demoradamente em mim. Abriu ainda mais o sorriso e os olhos brilhavam como faróis no escuro quando disse numa voz cristalina, tão musical que parecia ser acompanhada pelo som suave de uma orquestra de harpas. Parecia não, eu tenho a certeza que ouvia o som das harpas ao fundo, quando os seus lábios carnudos se entreabriram:
- Boa noite, chamo-me Solução. Pausa. Dr. Solução, rematou triunfante.
- OH Lindo!! E por onde andaste tu, que te procurei por todo o lado??
- Sou solução e português, por isso uma raridade, daí usar sempre o Dr. antes. Riu, inclinou a cabeça para trás, soltando os cabelos louros. Estive sempre aqui. Riu ainda com mais vontade, quando me sussurrou ao ouvido.
- Só apareço quando tudo parece perdido.
Caí nos seu braços, deixei-me levar naquele abraço profundo, inalei o cheiro do seu perfume, senti o arfar suave do seu peito encostado ao meu, a humidade pecaminosa dos seus lábios. Apertei-o ainda mais.
- Agora que te encontrei, não te vou largar mais.
- Sim. Serei teu para sempre. Fechou os olhos.
- Casas comigo?
- Sim.
Afastei-o um pouco mim, para a olhar em toda a sua plenitude, assegurar-me de que era sem ponta de interesse, só mesmo por amor, que aceitava casar comigo.
- Mas de papel passado!!! Disparei, tentando ver nos seus olhos alguma ponta de hesitação.
- Claro!! Sou ou não o Dr. Solução? Respondeu ele sem pestanejar.

CASAMOS DIA 10 DE OUTUBRO

FIM, THE END, KONIEK

Então!?!?!? Então e a BOMBA??
AH, A BOMBA. Já me esquecia. Pronto, cá vai.
- Eu vou votar no P.S.. Mesmo sabendo que S. Sócrates nada teve a ver com este suposto milagre.
- Vais?? De certeza??
- Bem, eu hummmm, acho que sim, hummmm…….

BUMMMMMMMMMM